Luciana Genro
Esta semana teve início oficialmente o período de debates que culminará
no 4º Congresso Nacional do PSOL. Sem dúvida estamos em um momento
privilegiado para fazer o debate político. As jornadas de junho deixaram
uma marca nova na conjuntura política do país, apontando uma situação
de instabilidade permanente para a classe dominante.
Foram alguns dias que valeram por anos em termo de ganho de força para
os de baixo. O andar de cima sacudiu, e foi visível como eles se
assustaram. Cessaram, por ora, as turbulências mais agudas. Entretanto o
Brasil não será mais o mesmo. As consciências avançaram anos-luz. Além
das consciências, os pés também aprenderam a andar mais rápido, o que
significa que a qualquer momento o inesperado pode voltar a acontecer.
O PSOL tem uma grande responsabilidade, portanto. Nossa missão
estratégica é ser capaz de dar um sentido universal para o mosaico de
reivindicações e necessidades do povo que irromperam na cena política
nas passeatas de junho e que seguem em pauta. Este sentido universal é
um programa, uma proposta para um novo poder, um poder das ruas. Nosso
Congresso tem que apontar esta saída, que só pode ser anticapitalista e
anti-regime. Contra os velhos aparatos, propomos a ação direta.
Para isso é incabível a proposta de que o PSOL venha a integrar o Foro
de São Paulo, feita pela tese Unidade Socialista por um PSOL Popular.
Este Foro, justamente por estar dirigido pelo PT, simboliza os aparatos
burocráticos que foram rejeitados pelas ruas em junho. Quem propõe
isso não entendeu nada do que aconteceu no Brasil, e na prática está
defendendo que o PSOL fique a reboque da ala esquerda do PT. Não é nos
associando a um grupo hegemonizado por partidos que defendem e
sustentam as instituições desta democracia para poucos e este modelo
econômico concentrador, rentista e excludente que vamos nos credenciar
para ser uma alternativa. Esta proposta sintetiza uma divergência
profunda que temos no PSOL, sobre o caráter do partido que queremos
construir.
Nossa associação tem que ser com partidos como a Syriza da Grécia,
irredutível na luta contra os ajuste, e com os movimentos juvenis e
populares que atropelaram os aparatos e desde 2011 estão fazendo a
diferença nas ruas mundo afora.
No Brasil o principal é que nosso partido seja fiel a junho, isto é,
reivindique a fundo o método da mobilização, da ação direta do povo
para avançar em conquistas imediatas. A hora é de arrancar vitórias,
temos que fazer a nossa parte. Contra a mesmice da pequena política ,
propomos uma Assembléia Popular Constituinte que reorganize o país sob
novas bases, de democracia real, política e econômica. Para eleger
esta Assembléia, medidas de urgência na política eleitoral, impedindo
que os mesmos de sempre sigam dominando.
Para nos fortalecer para a disputa de 2014, momento importante de
disputa de rumos do país, o ideal é que tivéssemos logo um nome para
apresentar como candidat@ a Presidente. Não podemos esperar até junho do
ano que vem, data das convenções oficiais. Me sinto honrada pelo fato
do meu nome ser indicado abertamente por duas das teses, a do MES,em
conjunto com o mandato do deputado Giannazi, e a da CST, do meu querido
amigo e fundador do PSOL junto comigo, ex deputado Babá. Mas é
preocupante que a maioria das teses apresentadas ao Congresso não tenham
abordado este tema de forma objetiva, apresentando um nome para a
disputa. Se os delegados forem eleitos ao Congresso sem esta definição,
na prática a base do partido não vai decidir diretamente este tema. E
ele é muito importante para não passar pelo crivo de toda a militância, e
não só dos delegados que serão eleitos ao Congresso. Lutamos por uma
democracia real e direta no Brasil e no PSOL não pode ser diferente.