domingo, 29 de março de 2009

BOA LEITURA !!

Núcleo de Educação Popular - 13 de Maio São Paulo, SP.
CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA
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ANO XXII. nº 967; 4ª semana de março/2009.
Marolinhas Selvagens. JOSÉ MARTINS.

Atenção Macunaíma da Silva: aquela idéia idiota dos teus economistas e da tua mídia que a economia brasileira seria menos afetada pela crise que as demais economias dominadas do BRIC (sigla referente a Brasil, Rússia, Índia e China, as quatro maiores emergentes) está definitivamente desmentida pelos fatos. É o que demonstram os números da OCDE em seu mais recente relatório dos indicadores antecedentes[1].
Isso é importante porque durante vários meses depois da eclosão da crise a economia brasileira era a única que ainda não aparecia nos radares da OCDE na perspectiva de “forte desaceleração”. Isso é coisa do passado. Agora a situação mudou. E o que mais chama atenção não é a mera entrada do Brasil na perspectiva sombria de “forte desaceleração”, mas da virulência com que isso está acontecendo. Vale a pena listar alguns números do relatório citado.

OECD Índices Compostos Antecedentes (CLIs).
Variação Sobre Ano Anterior (Year on Year) – pontos percentuais


EUA
BRASIL
CHINA
ÍNDIA
RÚSSIA
MÉXICO
Janeiro 2008
- 0.78
1.04
0.10
0.41
3.16
1.56
Fevereiro 2008
- 1.19
0.74
- 0.01
0.06
3.34
1.76
Março 2008
- 1.61
0.56
0.06
- 0.42
3.39
1.54
Abril 2008
- 2.05
0.68
0.04
- 1.01
3.21
1.25
Maio 2008
- 2.51
1.00
- 0.25
- 1.64
2.68
0.54
Junho 2008
- 3.07
1.24
- 0.94
- 2.32
1.68
- 0.12
Julho 2008
- 3.77
1.14
- 2.17
- 3.08
0.07
- 0.96
Agosto 2008
- 4.65
0.47
- 3.95
- 4.02
- 2.21
- 2.02
Setembro 2008
- 5.77
- 0.84
- 6.15
- 5.16
- 5.19
- 2.82
Outubro 2008
- 7.08
- 2.76
- 8.52
- 6.46
- 8.69
- 3.40
Novembro 2008
- 8.41
- 5.07
- 10.76
- 7.72
- 12.34
- 3.74
Dezembro 2008
- 9.69
- 7.61
- 12.77
- 8.75
- 15.84
- 3.78
Janeiro 2009
- 10.80
- 10.14
- 14.81
- 9.61
- 19.36
- 3.69



Para comparação acrescentamos EUA e México aos BRICs. Os primeiros, porque é da economia de ponta que se irradia as ondas magnéticas para o resto do sistema. O México, para medir melhor a intensidade da crise no Brasil em relação aos demais países da América Latina. Outra observação preliminar: para facilitar o entendimento, imaginemos esses índices da tabela acima como medições mensais da “pressão sangüínea” das diversas economias listadas. Também para efeito analítico, deve-se considerar que a elevação desse índices da tabela representa expansão das economias e redução representa desaceleração ou crise.
O que primeiro salta aos olhos desta tabela é que a situação do Brasil se agravou terrivelmente de Novembro 2008 para cá. Até então, como vimos em outros boletins, essas medições da OCDE ainda sinalizavam “expansão” para a maior economia da América Latina, enquanto todo o restante das grandes economias mundiais (incluindo as parceiras do BRIC) já sofriam as dores insuportáveis da ressaca cíclica com a perspectiva de “forte desaceleração”.
Os EUA já apresentavam queda de pressão contínua e crescente desde Janeiro 2008. Entre Agosto e Setembro iniciou-se concretamente o desabamento. A China ainda resistia (aparentemente) até os meses de Maio e Junho. A partir de Agosto/Setembro sincronizou-se milimetricamente aos EUA (logo ultrapassando) e sinalizando com mais clareza o seu desabamento. Neste momento, a queda de pressão do país mais populoso do mundo (- 14.81) só perde para a da Rússia (- 19.36). A Rússia, como o Brasil, também estava exuberante até meados de 2008. Com a queda fulminante dos preços do petróleo e do gás natural, em Agosto/Setembro, desabou estrondosamente. A Índia foi a participante do BRIC que apresentou a evolução mais regular do desabamento, seguindo até nos números mensais a evolução dos EUA. A Índia é a mais previsível das grandes economias mundiais. Por isso a falta de interesse que desperta no dia-a-dia do mercado global.
O México, grande exportador de petróleo e de plataformas de exportação (maquiladoras), surpreendentemente sinaliza um desabamento muito menos catastrófico do que o Brasil. Vejam que a queda mexicana foi até agora muito mais lenta (- 3.69 em fevereiro 2009) do que nas demais grandes economias listadas na tabela acima. Isso transparece na queda relativamente modesta de 2.7% do seu PIB no quarto trimestre 2008, frente aos 3.6% ocorridos no Brasil no mesmo período, como vimos no boletim anterior.
A pressão sanguínea do Brasil só sinalizou com clareza o seu desabamento na virada de Outubro (-2.76) para Novembro (- 5.07). Os índices de Dezembro (-7.61) e de Janeiro 2009 (-10.14) sinalizam a reversão cíclica mais catastrófica, pela sua intensidade, de todas as demais economias mundiais[2]. No próximo relatório da OCDE deverá ter caído abaixo do índice dos EUA e sincronizado catastroficamente com China e Rússia.
A marolinha prevista por Macunaíma da Silva, o folclórico presidente do Brasil, se iguala finalmente a marolinhas bem mais selvagens da Ásia e leste Europa, superando assim, pela primeira vez, a gravidade da “crise do Bush”, como ele se referia ao mais potente choque global de superprodução de capital desde os anos 1930.

[1] OECD Composite Leading Indicators, 6 March 2009.
[2] A única exceção é a Rússia, mas esta é um caso particular, devido ao peso do petróleo na economia.

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