quarta-feira, 7 de março de 2012

CEMITÉRIOS: Fonte de contaminação das águas subterrâneas

CEMITÉRIOS: Fonte de contaminação das águas subterrâneas
                        * Manoel Rodrigues da Silva – manoeldagua@yahoo.com.br

A palavra cemitério vem do grego (Koumetérion) significa eu durmo. Os cemitérios representam um risco potencial de contaminação para o ambiente e à saúde pública, pelo fato de os mesmos serem um laboratório de decomposição da matéria orgânica.
               Os antigos, por razões higiênicas e por temor, já selputavam seus mortos longe das cidades. Esta prática perdurou até ao século IX, quando em plena Idade Média européia, os sepultamentos começaram a ser feitos no interior e em torno dos edifícios religiosos. Como conseqüência, no século XVIII, os sanitaristas europeus começaram a questionar essa prática, baseando suas criticas nos ruídos ouvidos nos túmulos e nos gases nauseabundo provenientes da decomposição dos cadáveres, inadequadamente sepultados.
               A prática dos sepultamentos nas igrejas, mosteiros e conventos, foi implantada no Brasil, pelos colonizadores portugueses, que trouxe pra cá, os hábitos e costumes europeus.
               O necrochorume é constituído de água, sais minerais, proteínas e 471 substâncias orgânicas, incluindo duas diaminas, que são muito tóxicas, a cadaverina e a putrescina, além de vírus e bactérias. Desse modo, os cemitérios são fontes potenciais de impactos ambientais, principalmente quanto ao risco de contaminação das águas subterrâneas e superficiais por bactérias e vírus que proliferam durante os processos de decomposição dos corpos, além das substancias químicas liberadas. Esta água contaminada, por sua vez freqüentemente acaba sendo utilizada pelas populações vizinhas às necrópoles.
               Cessada a vida, anulam-se as trocas nutritivas das células e o meio acidifica-se, iniciando-se o fenômeno transformativo de autólise. Enterrado o corpo (inumação ou entumulamento), instalam se os processos putrefativos de ordem físico-química, em que atuam vários microorganismos.
               A putrefação dos cadáveres é influenciada por fatores intrínsecos e extrínsecos. Os intrínsecos são pertencem ao próprio corpo, tais como: idade, constituição física e causa-mortis. Os extrínsecos são pertinentes ao ambiente onde o corpo foi depositado, tais como: temperatura, umidade, aeração, constituição mineralógica do solo, permeabilidade, etc.
               O corpo humano, em sua constituição apresenta cerca de 65% de água, com relação ao peso. Os indivíduos magros apresentam um conteúdo de até 75% de água, enquanto que os indivíduos gordos apresentam até 55% de água. Dessa maneira um indivíduo adulto que tenha 70 kg tem um conteúdo da ordem de 46 kg em água, ou seja, 0,60 L/kg.
               Com a decomposição dos corpos há a geração dos chamados efluentes cadavéricos, gasosos e líquidos. Os efluentes líquidos chamados de necrochorume, que são líquidos mais viscosos que a água, de cor acinzentada a acastanhada, com cheiro acre e fétido, constituído por 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substâncias orgânicas degradáveis, dentre as quais, duas diaminas muito tóxicas que é constituída pela putrescina (1,4 Butanodiamina) e a Cadaverina (1,5 Pentanodiamina), dois venenos potentes para os quais não se dispõem de antídotos eficientes.
               Portanto é necessário que o poder público crie mecanismo para evitar que a população que assiste próximos a cemitérios não utilizem água subterrânea em detrimento as condições geológicas, pois o necrochorume atinge o lençol freático praticamente íntegro, com suas cargas químicas e microbiológicas, desencadeando a sua contaminação e poluição.
*O autor é funcionários publico estadual, graduado em Ciências Naturais – Biologia pela UEPA e autor do livro “Potabilidade da água Subterrânea em Marabá”


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